Recosto-me no meu recém adquirido colchão da minha recém adquirida cama do Ikea, que tanto me custou a montar, e abro o calhamaço.
São centenas de páginas secas, de uma leitura cansativa. O sr . A matou o sr . B com uma catana. Haverá imputação objectiva? A sra. C fugiu com o sr . D que envenenou o copo de leite da menina E, que morreu de apoplexia. Quid Juris ?
No meio deste teatro só penso porque me fui meter nisto. Desgraçada a hora em que decidi que queria ter uma nota melhor. Maldita a hora em que decidi investir na média. Mas que digo? Deliro com os pensamentos perversos do Sr. A. Adoro tentar descobrir se o Sr. D agiu com dolo ou foi negligente. E só penso no nexo de causalidade entre o copo de leite e a apoplexia da menina E. Que posso eu fazer? Estou condenada! Adoro isto!
Porque hei-de gostar de algo assim? Não há dúvida. Estou louca. Todos os juristas o são um pouco. Já fui contagiada. Não há saída. E adormeço. O Sr. A pode ser preso amanhã... e só li dez páginas do calhamaço.