
«Começam a revelar-se os factos que parecem ter alterado o destino português. As reuniões de fidalgos realizaram-se no palácio de D. Antão de Almada, ao Rossio (…).
«Esta manhã compareceram no Terreiro do Paço, ocultando as armas sob as roupas, e ao tocar das nove assaltaram subitamente o palácio, derrubando tudo quanto se lhes tentou opor.
«Rebuscaram na sala do secretário Miguel de Vasconcelos e encontraram-no escondido num grande armário de madeira, onde o executaram sem qualquer troca de palavras. O corpo foi arremessado pela janela para a praça (…). Logo um sem-número de mendigos se lançou sobre ele (…).
«Entre o início do assalto e a proclamação do novo rei ao povo mediou um quarto de hora. Assim cai um regime.»
«A revolução de Lisboa foi abraçada, com entusiasmo, em todo o país. A província do Alentejo foi a primeira a aderir. (…) Em Coimbra, as cartas idas de Lisboa despertaram o maior entusiasmo. Os estudantes juntaram-se no pátio da Universidade e foi ali que, no dia 6, aclamaram o rei, entre grandes manifestações de júbilo. (…) Em Santarém, fidalgos, clero e povo aclamaram o rei, num grande cortejo cívico que percorreu as ruas da vila. O mesmo sucedeu em Leiria (…). No Porto, a aclamação fez-se no dia 8 (…). As notícias do Porto chegaram a todas as vilas e cidades do Minho, Douro e Beiras e em todas houve verdadeiras explosões de alegria. (…) Em Salamanca mais de quatrocentos estudantes portugueses saíram da cidade em direcção à fronteira portuguesa, gritando pelas estradas: “Viva El-Rei D. João IV!” (…)»
In «Diário da História de Portugal»,
José Hermano Saraiva e Maria Luísa Guerra
Selecções do Reader’s Digest, 1998
Há 366 anos um país inteiro festejava unido a restauração de uma independência perdida durante 60 anos. Hoje…