CFL @ 21:09

Dom, 29/05/05

O eng. Sócrates não foi festejar a sagração do Benfica campeão. Porque sabia que no dia seguinte o país do futebol seria tomado pelas claques barulhentas e pestilentas do país do défice. Naquela noite, enquanto os senhores Antónios, barrigudos e de bigode farfalhudo, se dirigiam à Luz envergando as suas bandeiras poeirentas guardadas na gaveta do fundo desde 1994, o eng. Sócrates apagava a trémula luzinha da sua mesa de cabeceira e escondia a cabeça debaixo do lençol Armani azul, às riscas cor-de-rosa, desejando que o dia de amanhã não chegasse.

Mas o dia de amanhã não tardou. Ainda atordoados pelos festejos, às 7h da manhã os benfiquistas chegaram a casa e ligaram a televisão à espera dos primeiros noticiários. E entre bandeiras vermelhas agitadas, cornetas, apitos e very lights lá estava ele: o malvado défice. E pior! Mais gordo do que nunca. O obeso défice português festejava agora a tomada da opinião pública. O seu amigo IVA lambia também já as beiças antecipando o suculento almoço dos saudáveis (porque pouco gordurosos) salários portugueses. Atrás, vinha acorrentado o Sr. Funcionário Público e uma turba enfurecida de desempregados fabris.

Agora os benfiquistas barrigudos terão de esperar pela época de saldos para comprar um novo cinto, que de pouco lhes servirá. Em Setembro o país do futebol reconquista a independência e o défice é esquecido. Mas o eng. Sócrates recordará para sempre a primeira vez que teve de esconder a cabeça debaixo dos lençóis Armani azuis, às riscas cor-de-rosa, receando que no dia das próximas eleições, realizadas a bordo de um país afundado, os náufragos se lembrem vagamente do país que foi e devastado pelo défice tão depressa não volta a ser.



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