Não me posso calar outra vez. E a minha indignação é tal que dispenso quaisquer floreados literários para ornamentar este pensamento. Isto é absolutamente inconstitucional! Será que a senhora que pronunciou estas palavras ainda não sabe de cor o art. 13.º da CRP (o tão conhecido princípio da igualdade?) e também o art. 64.º (direito à saúde)?
E que critérios servirão para esta absurda reencarnação de Noé escolher os afortunados viajantes nesta Arca à portuguesa? Afinal, quem é fundamental? Será fundamental o director clínico de um qualquer hospital, já em idade de reforma? Ou será fundamental o estudante de medicina? Será fundamental o Sr. Polícia que já não consegue correr ou o Sr. Pereira que corre atrás do ladrão que assaltou a velhinha na rua? Será fundamental a Sra. sub-directora geral da Saúde que nem sabe o que é a Constituição ou será fundamental o Sr. do lixo que todas as madrugadas lhe recolhe os saquinhos do Carrefour cheios de desperdícios orgânicos? E há uns anos atrás, o Carlos Cruz era fundamental...
Mas devíamos ficar felizes. Deus desceu à terra personificado em alguém que não conhecemos... em alguém que vai escolher quem é fundamental ou quem não é!
Sr. Deus português, posso meter uma cunha? É que eu sou fundamental porque sei o que é uma Constituição!
Só me resta concluir que é fundamental que quem teve esta brilhante e fundamental ideia apanhe gripe (das aves, dos porcos, dos ouriços-caixeros, de qualquer coisa)!
E será igualmente fundamental que a pombinha da Arca de Noé portuguesa não se constipe porque depois ninguém encontra o caminho de volta.