Foi há um mês que me despedi de ti. Como ninguém nunca deveria ter de se despedir. E hoje percebi, pela primeira vez, que partiste mesmo. No teu lugar tenho agora apenas muitas folhas de papel, recordações de outros momentos, a tua letra à mão numa simples agenda. A matrícula do meu carro. Um porta-chaves que te fiz. Partiste mesmo. E as ondas do Tejo, naquele dia, vão ficar para sempre comigo. Estive contigo nas duas semanas mais longas da minha vida, nas duas semanas mais curtas de sempre. A tua mão na minha, a forma como a seguravas. O teu olhar, o teu sorriso. O jornal que passei a comprar quase todos os dias, o que te pude oferecer. A tua mão. A tua mão que tantas vezes segurou a minha, a tua mão que me levou em passeios pelo parque quando era pequena. A tua mão que já não posso nunca mais tocar.
Hoje percebi. Percebi que quinze dias não são nada, percebi que fizemos deles tudo. Agora de ti, resto só eu. E o amor que sempre te vou ter. As manhãs na praia, o ser igual a ti, os teus vinte e três cromossomas que estão em mim. A saudade de ti... ir àquele café e pensar que te posso encontrar. Cruzar a minha rua e sentir que te podia ver. As nossas férias, aquela praia. O blazer azul escuro que vestias quando me levavas à escola... o teu after-shave. A nossa vida, a tua vida na minha vida. Tu. Hoje percebi que partiste mesmo.
Pai, vou sentir sempre a tua falta. Vais estar sempre na minha vida. Amo-te. Amei-te... e amar-te-ei sempre. E eu sei que partiste... mas existes aqui. Para sempre.