Quando encontro a tua fotografia, quando me lembro como tu eras, sinto a dor de teres partido mais forte do que naquela altura. Partiste mesmo. E agora... só tenho estas fotos, só tenho uma imensidão de papéis. Nem a tua voz, nem o teu cheiro, nem a ti. Só papéis... E a tua fotografia, assim mesmo como tu eras, no meio de tantos papéis.
E aos três meses, quando vou percebendo mais um pouco que não vais voltar, dói não te ter mais na minha vida.
Foi há um mês que me despedi de ti. Como ninguém nunca deveria ter de se despedir. E hoje percebi, pela primeira vez, que partiste mesmo. No teu lugar tenho agora apenas muitas folhas de papel, recordações de outros momentos, a tua letra à mão numa simples agenda. A matrícula do meu carro. Um porta-chaves que te fiz. Partiste mesmo. E as ondas do Tejo, naquele dia, vão ficar para sempre comigo. Estive contigo nas duas semanas mais longas da minha vida, nas duas semanas mais curtas de sempre. A tua mão na minha, a forma como a seguravas. O teu olhar, o teu sorriso. O jornal que passei a comprar quase todos os dias, o que te pude oferecer. A tua mão. A tua mão que tantas vezes segurou a minha, a tua mão que me levou em passeios pelo parque quando era pequena. A tua mão que já não posso nunca mais tocar.
Hoje percebi. Percebi que quinze dias não são nada, percebi que fizemos deles tudo. Agora de ti, resto só eu. E o amor que sempre te vou ter. As manhãs na praia, o ser igual a ti, os teus vinte e três cromossomas que estão em mim. A saudade de ti... ir àquele café e pensar que te posso encontrar. Cruzar a minha rua e sentir que te podia ver. As nossas férias, aquela praia. O blazer azul escuro que vestias quando me levavas à escola... o teu after-shave. A nossa vida, a tua vida na minha vida. Tu. Hoje percebi que partiste mesmo.
Pai, vou sentir sempre a tua falta. Vais estar sempre na minha vida. Amo-te. Amei-te... e amar-te-ei sempre. E eu sei que partiste... mas existes aqui. Para sempre.