Oito horas de viagem versus uma hora de julgamento. Ah, Sr.ª Dr.ª, sabe... é que o meu cliente tem oitenta anos e não ouve, não vê e mora a 50 metros do tribunal mas não pode sair de casa... assim como assim, a Sr.ª Dr.ª vai perder de qualquer forma porque isto já prescreveu há dois anos (mas diga-se que o meu cliente não deve nada!). Qual é a doença dele? Pois, é velhice, o que é que se há-de fazer? Pois, então, se quer confirmar a doença permanente, mande lá o médico a casa e volte para o mês que vem para mais oito horas de viagem. Ao menos, depois pode ir comer francesinhas à Ribeira.
Sete Cidades, S. Miguel (20/07/2008)
Há muitos, muitos anos, vivia no Reino das Sete Cidades uma pequena Princesa chamada Antília.
A menina era a filha única de um velho Rei viúvo que era conhecido pelo seu mau feitio. Senhor das Alquimias e do Saber, o Rei vivia em exclusivo para a sua filhinha, não gostando que a Princesa falasse com ninguém. A menina ora estava com o pai, ora estava com a velha ama que a criara desde o nascimento, altura em que a Rainha sua mãe falecera.
Os anos foram passando, Antília foi crescendo e um dia já não era mais aquela menina de tranças loiras caídas sobre os ombros, enfeitadas com flores silvestres; tinha-se transformado numa linda jovem, uma Princesa capaz de encantar qualquer rapaz do seu reino.
Contudo, se todos ouviam falar da beleza da jovem Princesa, eram poucos ou nenhuns os que a conheciam, pois o Rei não gostava que ela saísse do castelo nem dos jardins que o circundavam.
Mas Antília não se deixava intimidar pelo pai, e com a ajuda da velha ama costumava esquivar-se todas as tardes, enquanto o Rei dormia a sesta depois do almoço. Saía pelas traseiras, sem que ninguém a visse, e ia passear pelos montes e vales próximos.
Num desses passeios, andando pela floresta, um dia a Princesa escutou uma música. A música era tão linda, encantou-a de tal forma, que ela se deixou guiar pelo som e foi descobrir um jovem pastor a tocar flauta, sentado no cimo de um monte. Era ele o autor de tanta maravilha!
A Princesa, encantada, deixou-se ficar escondida a ouvir o jovem a tocar flauta. E ouviu-o escondida durante semanas, até que o pastor, um dia, a descobriu por detrás de uns arbustos.
Ao vê-la foi amor à primeira vista, e era recíproco, pois ela também estava apaixonada por ele. Os jovens continuaram a encontrar-se. Passavam as tardes a conversar e a rir, o pastor a tocar para a Princesa e ela a escutá-lo enlevada, e ambos se sentiam muito felizes juntos.
Um belo dia o pastor decidiu pedir a Princesa em casamento.
Logo pela manhãzinha, o jovem bateu à porta do Castelo, e pediu ao criado para falar com o Rei. Pouco depois o criado voltou e levou-o à presença do Soberano. Muito nervoso mas determinado, o pastor fez-lhe uma vénia e, olhando-o nos olhos, disse:
- Majestade, gosto muito de Antília, sua filha, e gostaria de pedir a sua mão em casamento.
- A mão de minha filha, NUNCA... OUVISTE... NUNCA!- disse o Rei aos berros.- Criado, põe este pastor atrevido na rua.
O jovem bem tentou argumentar, mas ele não o deixava falar, e expulsou-o do Castelo.
Em seguida o Rei mandou chamar Antília e proibiu-a de ver o pastor. Antília mais não fez do que acatar as ordens do Rei seu pai.
E nessa mesma tarde foi ter com o seu amor e disse-lhe que nunca mais se podiam encontrar.
Os dois jovens choraram toda a tarde abraçados.
As suas lágrimas, de tantas serem, formaram duas lindas e grandes lagoas, uma verde da cor dos olhos da Princesa, a outra azul da cor dos olhos do pastor.
E ainda hoje estas duas lagoas continuam no Vale das Sete Cidades, na Ilha de São Miguel, lá nos Açores, para avivar a memória de todos quantos por ali passam, e recordar o drama dos dois apaixonados.
Qual é a probabilidade de ir de férias no mesmo avião que o nosso chefe?
Pelos vistos, é muita.
Eu é que não sabia.
Cerca de 80 horas e de 5800km de viagem, estou de volta da minha roadtrip to Italy. Agora vou dormir como não durmo há 12 dias. Depois logo conto e volto ao Mundo de cá. Até já.
Em Barcelona. STOP. 1200km num só dia. STOP. Hotel assustadoramente cor-de-rosa. STOP. Marselha é o próximo destino. STOP. Se nao voltar dentro de 12 dias chamem a polícia. STOP.
Cenas de uma viagem às origens, para acompanhar o fim da geração da primeira década do séc. XX. No total, sete horas de viagem e 658 qulómetros percorridos. Filha-condutora em desespero.
Algures em plena A23, às 23h:
Let's not kill the karma / Let's not start a fight / It's not worth the drama / Just a beautiful liar / Beyoncé Beyoncé / Shakira Shakira...
Mãe - Esta música dá-me sono!
E após alguma escolha, introduz um CD na ranhura do autorádio.
La la la la la la la la
Sobe, sobe, Balão Sobe / Vai pedir àquela estrela / Que me deixe lá viver / E sonhaaaaaar...
Na A1, a passar perto das Caldas-da-Rainha, a muitos e muitos quilómetros de distância de Sintra (e de Oeiras):
"Olha Cintra! Estamos quase a chegar!"
Diz a avó, quando vê a fábrica da cerveja Cintra.
Entre uma nota ou outra que teima em não sair e o pensamento convencido de dispensar pelo menos uma dessas orais, entre um telefonema para o escritório com o tímido receio de já se terem esquecido de mim (porque isto de arranjar trabalho com quatro meses de antecedência implica o stress de achar que entretanto nos esquecem) e o sórdido prazer de escolher o nome profissional e decidir em definitivo, de entre os meus quatro nomes, quais os que melhor mostram toda a minha qualidade (ou não) enquanto advogada estagiária, às vezes surge a nostalgia de dias em que a emoção era maior e melhor (esperar por notas é mais irritante que emocionante). Remember Cuba?
As malas não estão desfeitas. As roupas espalham-se pelo chão à procura de um ou outro presente. É o final de uma viagem de finalistas. É o princípio do início de outra viagem. Pela vida. Na mala chega a roupa amarrotada. No coração mantêm-se recordações destes e de outros momentos. E que odisseia foi esta de começar a conhecer assim a minha nova vida!
Há, contudo, alguma nostalgia. De dias que passaram e já não voltam. Da certeza de alguns outros dias que nunca virão. Nostalgia do que foi e já não será e um pequeno aperto pelo desejo de voltar atrás um dia, dois dias, um ano, cinco anos. Agora que tudo passou já não marca tanto. Desta viagem final que marca o princípio da vida não ficam apenas uma voz rouca ou o som da salsa cubana. Ao lado das fotos fica a memória do pouco que perdi mas de tudo o que aprendi.